Segunda Opinião: Tudo sobre o Bruxismo by: Dra.Juliana Stuginski-Barbosa – 2ª parte

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Segunda Opinião: Tudo sobre o Bruxismo by: Dra.Juliana Stuginski-Barbosa – 2ª parte

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Bruxismo: estágio atual

Juliana Stuginski Barbosa
Mestre em Neurociências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP
Especialista em Disfunção Têmporo-mandibular e Dor Orofacial

Leia a Primeira parte deste artigo – aqui

O bruxismo do sono é o mais estudado. Com a polissonografia, pode-se então compreender o que acontece quando o paciente está dormindo. O que se percebe é que na maioria das vezes o bruxismo do sono é caracterizado por eventos de ranger de dentes, não há predileção por sexo, é mais frequente em crianças (14 a 18% da população) depois em adultos (8%) e menos na terceira idade (3%). Não se range os dentes a noite toda, como costumo ouvir por aí. Os eventos ocorrem em maior frequencia na fase 2 do sono não REM, com em média 6 episódios/hora de sono. Estes episódios de bruxismo ocorrem após um microdespertar que consiste numa ativação cerebral rápida, não percebida pelo paciente. De forma resumida pode-se descrever a sequencia de um episódio de bruxismo:
  1. Microdespertar: ativação do sistema nervoso central e atividade alfa no EEG
  2. Ativação do sistema nervoso autônomo: aumento da frequência cardíaca
  3. Ativação da musculatura mastigatória e só então, contato de superfícies dentárias

Agora podemos verificar que as teorias difundidas nas décadas de 70 e 80 relacionando o bruxismo à oclusão, com os estudos, caíram por terra. Já se sabe que o bruxismo não é controlado por ajuste oclusal, não há diferença morfológicas oclusais entre pacientes com e sem bruxismo, a interferência oclusal não aumenta a atividade eletromiográfica de masseter e ainda, sabe-se que, o contato oclusal no bruxismo do sono é o último evento a acontecer em um episódio de bruxismo.


Com relação ao bruxismo primário do sono então, as teorias que buscam explicar o porquê ele ocorre, hoje se concentram em analisar alguns temas como estresse e ansiedade (atividade de catecolaminas como dopamina e serotonina, predisposição hereditária, papel do eixo hipotalâmico adrenérgico e amígdala central); dopamina e sua associação ao mecanismo de microdespertar e o papel genético. Muitas avenidas de pesquisa estão abertas!

E enquanto não se sabe, o tratamento continua o mesmo. Não há cura para o bruxismo, apenas o controle de seus efeitos deletérios, sobretudo nas estruturas dentárias, o que a placa de mordida em acrílico ainda faz com maior eficiência, de forma conservadora e reversível. À medida que as pesquisas avançam, medicamentos serão propostos. Foi observado por exemplo que a clonidina, visando reduzir a ativação do sistema nervoso autônomo, eliminou o bruxismo em 60% dos pacientes, mas às custas de hipotensão, ou seja, efeitos colaterais sérios que a contraindicaram no tratamento.

Todas as informações deste texto foram extraídas no livro Sleep Medicine for Dentists, editados por Gilles Lavigne (um dos maiores pesquisadores de bruxismo do sono), Peter Cistulli e Michael Smith e também da revista Journal Oral Rehabilitation de 2008, que dedicou o volume 35, fascículo 7 inteiro ao bruxismo com revisões muito interessantes (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jor.2008.35.issue-7/issuetoc)

Recentemente também, o Prof. Lavigne publicou um artigo (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21056235) cujo resumo encerra perfeitamente este texto:
·         Bruxismo é um distúrbio do movimento relacionado ao sono, caracterizado por contrações repetidas da musculatura mastigatória.
·         Ocasionalmente ocorre em associação a ruídos de ranger de dentes.
·         Os sintomas mais comuns são: dor muscular e/ou articular, cefaleia e sensibilidade dentinária devido a fortes contrações musculares.
·         É importante distinguir o bruxismo do sono daquele que acontece durante a vigília uma vez que possuem etiologia e fisiopatologia distintas.
·         Na ausência de qualquer problema médico, outro distúrbio do sono, uso de drogas ilícitas ou medicação, o bruxismo do sono é considerado primário.
·         Idade parece ter papel importante nesta condição uma vez que a condição é relatada em 14% das crianças, 8% entre adultos, mas apenas em 3% das pessoas na terceira idade.
·         A patofisiologia do bruxismo ainda não está clara, mas pode estar associado a: alguns distúrbios neurológicos ou psiquiátricos; influências de fatores sensoriais no controle motor; interação de neurotransmissores; e alguns mecanismos associados ao microdespertar.
·         O diagnóstico do bruxismo do sono é dado após entrevista com o paciente, exame clínico e registro do sono.
·         A estratégia mais apropriada para tratamento de pacientes com bruxismo do sono deve se iniciar com uma reavaliação da queixa principal do paciente como, por exemplo, os ruídos de ranger de dentes ou dor na musculatura pela manhã.
·         Um dispositivo intraoral, seja ele maxilar ou mandibular, é o procedimento reconhecido para prevenção dos ruídos de ranger de dentes na ausência de apneia do sono.
·         Se algum distúrbio respiratório do sono estiver presente, um dispositivo de avanço mandibular pode ser considerado.

Agradeço ao Léo a oportunidade de escrever aqui sobre um tema que gosto muito!
Obrigada! 
E visitem meu blog também! www.julianadentista.com  

;-)

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